Morreu por negligência do Estado: A denúncia de mãe em São Luís que perdeu a filha após anos de luta por direito à saúde

A Luta de uma Mãe pela Vida: A História de Isadora e a Burocracia da Saúde

Nesta reportagem, trazemos a comovente e desafiadora trajetória de Maria, uma mãe de São Luís que lutou com todas as suas forças pela saúde de sua filha, Isadora. Desde o diagnóstico de uma doença grave, até a batalha contra a burocracia do sistema de saúde, a história de Maria é um triste reflexo da realidade enfrentada por muitas famílias no Brasil.

O Diagnóstico e a Necessidade de Cirurgias

Isadora Alves dos Santos foi diagnosticada com hipoplasia do coração esquerdo ainda na gestação, em 2020. Essa condição exigia três cirurgias essenciais para sua sobrevivência. Maria, que vive no Coroadinho e é mãe de mais três filhos, viu-se em uma situação desesperadora. O marido, que sustenta a família com um trabalho informal, não tinha como arcar com os altos custos das intervenções. Assim, Maria se viu forçada a recorrer à Justiça para garantir o direito à saúde de sua filha.

Direito à Saúde e o Sistema Judiciário

O Artigo 196 da Constituição Federal estabelece que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado. No entanto, a realidade muitas vezes é diferente. Desde o nascimento de Isadora, Maria lutou na Justiça para garantir que sua filha tivesse acesso às cirurgias que poderiam salvar sua vida. O procedimento inicial deveria ocorrer até os seis meses de idade, seguido por duas cirurgias subsequentes. O que deveria ser um direito, tornou-se uma batalha judicial.

A Primeira Cirurgia: Um Conflito de Urgência

Em setembro de 2020, após meses de espera, Maria obteve uma liminar que ordenava ao Estado que custeasse a primeira cirurgia de Isadora e garantisse um leito em uma Unidade de Terapia Intensiva pediátrica em outro estado, uma vez que o Maranhão não possuía a estrutura necessária. Apesar da determinação judicial que estipulava um prazo de 24 horas para o cumprimento, o Estado atrasou a cirurgia, colocando a vida de Isadora em risco. “Minha filha não pode esperar muito tempo”, desabafou Maria, em um momento de angústia.

Superando Obstáculos

Com o apoio de reportagens que deram visibilidade ao caso, Isadora finalmente foi transferida para o Hospital da Criança e Maternidade de São José do Rio Preto, em São Paulo, onde a primeira cirurgia foi realizada com sucesso. Mas a luta de Maria estava longe de acabar. Meses após essa vitória, novos desafios surgiram quando foi necessário garantir a segunda cirurgia.

A Segunda Cirurgia: Mais Burocracia

Em maio de 2021, novamente Maria se viu obrigada a recorrer ao Judiciário devido à demora do Estado em providenciar a segunda cirurgia. O juiz da 1ª Vara da Infância e da Juventude concedeu uma nova liminar, mas o cumprimento da decisão também atrasou. “Eu posso esperar a vida toda, mas ela não. Ela tem a mais grave das cardiopatias”, relatou Maria, expressando sua angústia.

Esperança e Confiabilidade

Apesar dos obstáculos, a segunda cirurgia foi realizada e Maria começou a se preparar para a terceira e última intervenção, que deveria ocorrer anos depois. “É uma luta que vale a pena travar. Isadora é contagiante, ela nos ensina a valorizar a vida”, afirmou a mãe, com a esperança renovada.

O Último Desafio: A Burocracia e a Tragédia

A terceira cirurgia estava prevista para dezembro de 2024, mas a burocracia do Estado novamente impediu que o procedimento fosse realizado a tempo. Maria recorreu a uma vaquinha online para arrecadar fundos, mas a urgência não foi atendida e o feriado de ano novo se tornou mais uma justificativa para atrasos. “Era pra Isadora ter internado ontem”, lamentou Maria, em mais um momento de frustração.

A Tragédia Final

Infelizmente, devido a esses atrasos, a saúde de Isadora se deteriorou e ela acabou falecendo em abril de 2025, após complicações severas. “Se ela tivesse feito a cirurgia dentro da data, teria chance de vida”, desabafou Maria, que agora se vê sem sua filha e com um vazio imenso.

A Reflexão de uma Mãe em Luto

Após a morte de Isadora, Maria fez um apelo à sociedade e ao governo para que a questão das cardiopatias congênitas receba a atenção que merece. “Quando a minha filha piorou, me deixou uma revolta tão grande, por saber que a minha filha estava sofrendo e morreu por negligência do meu estado”, disse, com lágrimas nos olhos.

A Resposta do Governo

O governo do Maranhão, por sua vez, declarou que a morte de Isadora foi consequência da gravidade da condição e que agiu para garantir o tratamento necessário. No entanto, a história de Maria e Isadora expõe as falhas do sistema de saúde e a urgência de uma mudança real.

Considerações Finais

A história de Isadora é um lembrete doloroso da luta que muitas famílias enfrentam para obter o tratamento que seus filhos necessitam. É essencial que o sistema de saúde se torne mais eficiente e sensível às necessidades de crianças com doenças graves. A vida de Isadora e a luta de sua mãe não podem ser em vão. Que possamos aprender com essa tragédia e buscar um futuro onde a saúde de todos, especialmente das crianças, seja uma prioridade.