Gilmar vê PEC do foro como “casuísmo” e cobra “juízo” em alterações

Gilmar Mendes critica proposta de fim do foro privilegiado e alerta para riscos à justiça

Recentemente, o ministro Gilmar Mendes, que faz parte do Supremo Tribunal Federal (STF), expressou sua opinião sobre uma proposta que está sendo discutida na Câmara dos Deputados. Ele a classificou como “casuísmo”, referindo-se à ideia de acabar com o foro privilegiado de parlamentares. Essa proposta tem gerado debates acalorados e, segundo Mendes, pode trazer consequências negativas para a estabilidade do sistema judicial brasileiro.

A importância do foro privilegiado

O foro privilegiado é um mecanismo que garante que determinadas autoridades, como deputados e senadores, sejam julgados por instâncias superiores, no caso, o STF. Esse sistema foi criado com a intenção de proteger os parlamentares de possíveis abusos de juízes de primeira instância, garantindo que questões relevantes sobre suas condutas sejam tratadas de forma mais rigorosa e com maior proteção legal.

Gilmar Mendes argumenta que retirar esses processos do STF pode resultar em uma instabilidade adicional no sistema judicial. Ele menciona que, ao modificar o foro, há o risco de que, no futuro, parlamentares voltem a buscar proteção no Supremo, caso se sintam ameaçados por decisões de juízes de instâncias inferiores. “O que está a ocorrer, talvez, é um tipo de casuísmo. Mudando o foro, eu tiro a matéria da competência do Supremo. Daqui a pouco a gente volta ao Supremo buscando proteção”, alertou Mendes em um evento recente intitulado Fórum Empresarial Lide.

Exemplos de abuso e suas consequências

Durante sua fala, o ministro citou episódios lamentáveis que ocorreram ao longo da história do Judiciário brasileiro, onde o foro privilegiado foi utilizado de maneira inadequada. Um exemplo que ele trouxe à tona foi a possibilidade de um juiz de uma cidade pequena, como Cabrobó, no Ceará, determinar uma busca e apreensão na Câmara dos Deputados, ou até mesmo um juiz em Diamantina, em Minas Gerais, ordenar a prisão de um senador. Mendes enfatizou que isso seria uma subversão total da tradição jurídica que o Brasil sempre buscou preservar.

“Eu fico a imaginar, por exemplo, uma busca e apreensão determinada por um juiz de Cabrobó (CE) na Câmara dos Deputados ou uma ordem de prisão ordenada por um juiz de Diamantina (MG) a um senador. Isso seria a subversão completa da nossa tradição jurídica”, comentou Mendes, ressaltando a necessidade de prudência nas mudanças propostas.

O futuro da proposta no Congresso

Quando questionado sobre a possibilidade de a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa acabar com o foro privilegiado ser considerada inconstitucional, Gilmar Mendes foi cauteloso. Ele afirmou que é imprescindível aguardar a deliberação do Congresso antes de qualquer análise mais aprofundada por parte da Corte. Isso mostra que, apesar das preocupações, ainda há um processo legislativo a ser seguido, e a discussão deve ser feita com responsabilidade.

Recentemente, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, após uma reunião com líderes partidários, incluiu na pauta do plenário a PEC do fim do foro privilegiado, além de outra conhecida como “PEC da Blindagem”. Esta última proposta visa ampliar a proteção de parlamentares, estabelecendo novos critérios para a prisão de deputados. A votação desses textos estava prevista para ocorrer na quarta-feira, dia 27.

Conclusão e reflexões

É evidente que o tema do foro privilegiado é complexo e envolve muitas nuances. A preocupação de Gilmar Mendes demonstra que, embora a reforma possa ser necessária, é essencial considerar suas repercussões a longo prazo e garantir que não se crie um sistema ainda mais problemático. A discussão deve ser ampla, com a participação de diversos setores da sociedade, uma vez que o que está em jogo é a integridade do nosso sistema judicial e a confiança da população nas instituições.

Enquanto isso, o debate continua em Brasília, e a sociedade observa atentamente as decisões que serão tomadas. O futuro do foro privilegiado e das garantias constitucionais dos parlamentares está em jogo, e é fundamental que as mudanças sejam realizadas com cautela e responsabilidade.