Como um mini-camarão se tornou ponto chave para o futuro da Antártica

Desafios e Impasses na Proteção da Antártica: O Que Aconteceu na 44ª Reunião da CCAMLR?

No final de outubro, ocorreu a 44ª reunião anual da CCAMLR (Comissão para Conservação dos Recursos Marinhos Vivos da Antártica) na Austrália. Este evento é crucial para discutir a preservação da biodiversidade em regiões próximas à Antártica, mas, infelizmente, a reunião terminou sem grandes avanços nas questões relacionadas à pesca industrial, especialmente a do krill, um pequeno crustáceo que é vital para o ecossistema marinho.

A Pesca do Krill: Um Tema Central

Atualmente, a pesca do krill se tornou o tema central nas discussões sobre a conservação marinha. Essa espécie, que é frequentemente comparada a um mini-camarão, desempenha um papel fundamental na cadeia alimentar, sendo a base da dieta de várias criaturas marinhas, incluindo as enormes baleias. O sistema atual de pesca permite a captura de até 620.000 toneladas de krill em uma única área, o que levanta preocupações sobre a sustentabilidade dessa prática.

Desde 2024, uma cláusula que restringia esse tipo de captura expirou, e muitos especialistas temem que isso possa levar a uma exploração excessiva. É alarmante notar que, segundo o grupo Our Antarctica, há quase uma década, a CCAMLR não consegue estabelecer uma nova Área Marinha Protegida (Amp), o que é essencial para garantir a preservação desse ecossistema.

Posição do Brasil e a Busca por Soluções

A CNN Brasil entrevistou um membro do governo brasileiro que participou da reunião, mas que optou por permanecer anônimo. Ele destacou que o Brasil é a favor da criação de uma Área Marinha Protegida e expressou preocupação com a captura concentrada do krill. No entanto, ele também ressaltou que o país não se opõe ao aumento do limite de captura, desde que haja respaldo científico para garantir a sustentabilidade e a implementação de mecanismos de monitoramento eficazes.

Impactos na Biodiversidade e no Turismo

É importante entender que a pesca predatória do krill não afeta apenas a biodiversidade marinha, mas também o setor de turismo no Brasil. As baleias, que se alimentam desse crustáceo, migram da Antártica até a costa brasileira em busca de águas mais quentes para se reproduzirem. A falta de alimento pode dificultar essa migração, impactando o turismo, que, segundo estimativas, pode gerar até R$ 140 milhões por ano.

Um Caso de Cinema: A Detenção de um Biólogo

Outro aspecto que chamou a atenção na reunião foi a detenção do biólogo ucraniano Leonid Pshenichnov, que estava se preparando para participar do evento. Ele foi preso pelo governo russo na Crimeia, e suas ações em defesa do controle da pesca predatória do krill foram interpretadas como traição pelos russos. Esse episódio levanta questões sobre a liberdade de expressão e os riscos enfrentados por aqueles que lutam pela preservação ambiental em contextos de tensão política.

A Articulação Internacional e a Esperança por Mudanças

Ainda há esperanças de que mudanças possam ocorrer. A primeira-dama do Brasil, Janja da Silva, deve se reunir com o grupo “Vingadores Antárticos”, que inclui personalidades como o ator Benedict Cumberbatch e a renomada oceanógrafa Sylvia Earle. Eles enviaram uma carta ao presidente Lula, pedindo ações concretas para conter a pesca marítima predatória na Antártica. Essa articulação internacional pode ser um passo importante para a proteção da biodiversidade marinha.

Conclusão: O Caminho a Seguir

Os desafios para a preservação da Antártica são enormes, e a falta de consenso entre os países participantes da CCAMLR é um reflexo da complexidade da questão. O krill, sendo uma espécie chave na alimentação de muitos animais marinhos, deve ser preservado para garantir o equilíbrio do ecossistema. É fundamental que haja um esforço conjunto para implementar políticas que assegurem a sustentabilidade e a proteção desse ambiente tão frágil. A pressão da comunidade internacional e a mobilização da sociedade civil são essenciais para que possamos avançar nessa luta. O futuro da Antártica e de suas espécies depende das ações que decidirmos tomar agora.



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