A Inusitada Campanha de Propaganda da Venezuela: O Super Bigode e as Tensões com os EUA
Nos últimos tempos, a Venezuela tem enfrentado um cenário político e militar bastante complexo, especialmente com o aumento da tensão com os Estados Unidos. Uma das estratégias curiosas adotadas pelo governo venezuelano é a utilização do personagem Super Bigode, um super-herói em desenho animado que é, na verdade, um alter ego do ditador Nicolás Maduro. Desde 2021, o Super Bigode tem sido parte integrante da campanha de propaganda do país, especialmente em momentos críticos, como a presença militar americana no Caribe.
O Super Bigode em Ação
O Super Bigode é um personagem que, em episódios recentes, teve sua imagem alterada para refletir um tom mais bélico. Em um dos episódios exibidos em setembro, logo após a decisão de Trump de iniciar uma campanha de ataques aéreos contra barcos de drogas na costa da Venezuela, o herói trocou seu traje habitual por um uniforme militar e empunhou uma espada. Com isso, ele declarou que a Venezuela não possui uma “cultura bélica”, uma mensagem contraditória à imagem militarista que estava sendo apresentada.
É interessante notar que, apesar dessas aparições, o governo se vê em uma situação complicada. Enquanto as tensões com os EUA aumentam e os navios de guerra americanos se aproximam da costa venezuelana, as mensagens vindas do regime são bastante confusas. Eles pedem que os cidadãos se preparem para uma ação, mas, ao mesmo tempo, insistem que tudo está sob controle, criando uma dissonância entre a gravidade da crise e a comunicação oficial.
Contradições nas Mensagens do Regime
As ruas de Caracas refletem essa confusão. Ao contrário de campanhas anteriores, a CNN não encontrou outdoors ou murais que pedissem apoio à postura de guerra do governo. Isso levanta questões sobre a eficácia da propaganda e a real percepção do público em relação ao conflito iminente.
O pesquisador e jornalista venezuelano Andrés Cañizález observa que Maduro, que antes aparecia raramente em público, agora faz discursos quase diariamente, cercado por um aparato de segurança. Em vez de se apresentar como um líder bélico, ele tenta se mostrar como um pacificador, até mesmo cantando “Imagine” de John Lennon em eventos públicos, convocando Trump para um diálogo.
A Tática de Comunicação do Governo
A estratégia de comunicação do governo Maduro parece ter passado por diferentes fases. Inicialmente, as tensões com os EUA eram minimizadas, mas conforme a presença militar americana aumentou, o tom da comunicação se tornou mais agressivo e retaliatório. Diosdado Cabello, ministro do Interior e apresentador de um programa popular na TV estatal, é uma das vozes mais ativas nessa retórica, frequentemente atacando a oposição e defendendo a posição do governo.
Em seu programa, Cabello desmente a ideia de que as ações dos EUA estejam relacionadas ao tráfico de drogas. Ele afirma que a verdadeira intenção é controlar os recursos naturais da Venezuela, uma narrativa que visa reforçar a ideia de que há uma agressão externa contra o país.
Um Encontro de Personalidades
Ambos, Maduro e Cabello, têm suas peculiaridades. Enquanto Maduro busca uma abordagem mais conciliatória, Cabello é conhecido por seu tom agressivo. O cientista político Javier Corrales descreve Cabello como um “valentão” que representa a velha guarda do regime, uma figura que não apenas defende o presidente, mas também ataca os opositores com veemência.
Nos últimos dias, também vimos os militares venezuelanos intensificarem suas campanhas nas redes sociais, publicando vídeos de soldados se preparando para a guerra, o que pode ser interpretado como uma tentativa de mostrar força em tempos de incerteza.
O Dilema do Regime Venezuelano
O dilema para a liderança venezuelana é claro: como mobilizar apoio contra inimigos externos, como os Estados Unidos, sem provocar pânico em uma população que já está sob pressão. A retórica em torno do Super Bigode e as aparições de Maduro refletem esse esforço de equilibrar a política interna e externa, mas a pergunta que permanece é se essa estratégia será eficaz a longo prazo.
A situação é complexa e, enquanto o regime tenta navegar por essas águas turbulentas, a figura do Super Bigode pode muito bem se tornar um símbolo da luta da Venezuela em tempos de crise. O que resta saber é se, em meio a toda essa tensão, o Super Bigode realmente desembainhará sua espada, ou se acabará se tornando um mero personagem em uma história cada vez mais complicada.