Data Favela: 36% dos envolvidos com o tráfico possuem outra ocupação

A Vida Dupla: Entre o Crime e o Trabalho Lícito nas Favelas Brasileiras

Um recente estudo, o Raio-X da Vida Real, conduzido pelo Data Favela, trouxe à tona uma realidade alarmante: cerca de um terço dos entrevistados que estão envolvidos com tráfico de drogas também buscam complementar sua renda com atividades legais. Isso mostra uma complexidade na vida das pessoas que vivem em favelas e periferias, onde a necessidade muitas vezes força uma divisão entre o crime e o trabalho formal.

Um Olhar Sobre os Números

A pesquisa revela que 36% das pessoas envolvidas no tráfico de drogas também exercem algum tipo de trabalho remunerado. Dentro dessa amostra, os dados são ainda mais intrigantes. Aproximadamente 42% realizam bicos, ou seja, trabalhos pontuais que não garantem uma renda fixa. Outros 24% se identificam como empreendedores, enquanto 16% têm um emprego formal com carteira assinada. Além disso, 14% ajudam em negócios de familiares ou amigos, e 2% estão envolvidos em projetos sociais, mostrando que mesmo em meio ao crime, há um desejo de engajamento e contribuição.

Educação e Trabalho: Uma Relação Complexa

Os dados sobre a formação educacional dos entrevistados também são reveladores. Para aqueles com nível básico ou médio, as profissões mais comuns incluem ajudante de pedreiro, gerente de loja, cozinheiro, vigilante, faxineira, costureira, doméstica e técnico em informática. Essas ocupações refletem a luta diária para sustentar suas famílias, mesmo que muitas vezes em condições adversas.

Por outro lado, há um número significativo de indivíduos que possuem formação superior. Esses profissionais atuam como administradores, advogados, contadores, engenheiros, jornalistas e até médicos. Essa diversidade nas ocupações sugere que a vida no crime não é necessariamente uma escolha exclusiva para aqueles sem acesso à educação, mas sim uma realidade que pode afetar a todos, independentemente do nível de escolaridade.

O Que Poderia Fazer a Diferença?

Um dado que chama atenção é que 57% dos entrevistados afirmaram que desistiriam do crime se tivessem uma oportunidade de emprego melhor. Isso evidencia que a maioria não está presa a esse estilo de vida por escolha, mas sim por falta de opções viáveis. O desejo de mudar de vida e de buscar uma saída desse ciclo vicioso é uma aspiração comum entre muitos que vivem nessa realidade.

Renda e Sobrevivência

Em termos de renda, a pesquisa aponta que 63% dos entrevistados ganham até 2 salários mínimos por mês, o que equivale a aproximadamente R$ 3.040,00. Esse valor é insuficiente para suprir as necessidades básicas de uma família, e isso pode explicar a busca por alternativas, mesmo que arriscadas. Somente 4% recebem entre R$ 7.600,00 e R$ 15.200,00, enquanto 2% superam essa faixa de renda.

Um Estudo Necessário

Promovida pela Central Única das Favelas (CUFA), pela Favela Holding e pelo Instituto DataGoal, a pesquisa Raio-X da Vida Real ouviu 3.954 pessoas envolvidas com o tráfico de drogas, entre os dias 15/08/25 e 20/09/25, em todas as regiões do Brasil. O Data Favela é inovador por ser o primeiro instituto brasileiro a focar em pesquisas dentro de favelas e áreas periféricas, destacando a necessidade de entender melhor as condições de vida e as aspirações das pessoas que vivem nessas comunidades.

Reflexão Final

Compreender a intersecção entre o crime e o trabalho lícito é crucial para a formulação de políticas públicas que realmente possam ajudar essas comunidades a se desenvolverem. Precisamos ouvir essas histórias e entender que, por trás de cada número, existe uma vida, uma luta e um desejo de mudança. É fundamental criar oportunidades e caminhos alternativos que possam levar essas pessoas a um futuro mais promissor.



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