Como as Mulheres Estão Transformando o Gênero de Suspense e Terror
Por muitos anos, o universo do suspense e do terror foi considerado dominado por homens, tanto nas prateleiras das livrarias quanto nas narrativas que permeavam esse estilo literário. No entanto, autores como Lisa Jewell e Jeneva Rose estão mudando esse cenário, trazendo à tona histórias que abordam o medo cotidiano e as complexidades emocionais que envolvem a vida. Elas mostram como a perspectiva feminina pode oferecer uma visão única, revelando a intimidade emocional e as inseguranças que muitas pessoas enfrentam.
Narradoras do Medo
Lisa Jewell, conhecida por best-sellers como “Nada Disso É Verdade” e “A Família Perfeita”, começou sua carreira escrevendo comédias românticas. Contudo, ao longo do tempo, ela percebeu que seu desejo era explorar o lado mais sombrio das relações humanas. “Eu comecei escrevendo romances e não tinha nenhuma ambição de escrever suspense até cerca de 2015”, compartilha Lisa. “Mas percebi que queria algo com mais profundidade e que me desafiava criativamente.”
A transição dela para o gênero de suspense foi natural, à medida que ela se sentia mais confiante em sua escrita. “Eu fui ficando um pouco mais sombria com os temas sobre os quais escrevia e então, cerca de dez livros atrás, escrevi o que se poderia chamar de meu primeiro thriller — e desde então não olhei mais para trás.”
Suas obras são marcadas por personagens femininas fortes e muitas vezes imperfeitas, o que, segundo ela, é fundamental para criar uma conexão com os leitores. Jeneva Rose, autora de “O Assassinato no Verão de 1999”, também se destaca por seu trabalho que mistura o medo com o cotidiano. Ela diz: “Sempre fui fascinada pelo que nos assusta. Cresci assistindo a filmes de terror e, com o tempo, isso se traduziu em leitura. Não me interesso só pelos monstros ou assassinos, mas também pelos medos do dia a dia.”
O Olhar Feminino Sobre o Medo
Historicamente, os thrillers mais populares giravam em torno de tramas políticas e jurídicas, quase sempre escritas e protagonizadas por homens. No entanto, Jeneva Rose acredita que as autoras estão transformando o gênero, trazendo o medo para uma perspectiva mais pessoal e emocional. “Acho que as mulheres trazem uma precisão emocional muito forte. Escrevemos sobre a antecipação do que pode estar no escuro. Nós sabemos o que é sentir perigo antes que qualquer outra pessoa perceba. Essa consciência cria uma nova sensação de pavor — silenciosa e inquietante.”
Ela acrescenta que as mulheres vivem o medo de maneira diferente, especialmente quando saem à noite. “Um homem pode não temer o que está no escuro, mas nós sim. Antecipamos tudo ao nosso redor. Essa riqueza de camadas que vem dessa perspectiva é valiosa e necessária no gênero.”
Desafios na Indústria Literária
Apesar do progresso, Lisa e Jeneva reconhecem que a indústria literária ainda enfrenta desafios significativos. Lisa menciona que muitas vezes, uma obra com um título ou autor feminino pode ser subestimada. “Eu tenho a sensação de que se a obra tiver um título feminino, um homem provavelmente não irá querer ler. E muitas leitoras também podem pensar que não será para elas.”
Jeneva, por sua vez, aponta que as mulheres são frequentemente julgadas de forma mais rigorosa. “Quando um homem escreve sobre obsessão ou violência, é visto como ousado; mas quando uma mulher faz isso, as perguntas surgem: ‘Você está bem?’ ou ‘Quem te magoou?’. Isso é frustrante, mas me motiva a continuar escrevendo.”
O Futuro do Suspense
A nova geração de escritoras está expandindo o gênero com emoção e autenticidade. Jeneva conclui: “Podemos ser nutridoras e brutais na página, amorosas e aterrorizantes na arte. Nossas imaginações são tão vastas quanto as de qualquer homem.” Lisa complementa, afirmando que a presença crescente de autoras e editoras que apostam em histórias centradas em mulheres torna o gênero muito mais interessante. “Eu só quero que meus personagens saltem da página, sejam bons ou maus, sombrios ou claros. Quero que ajudem a moldar a história.”
Por fim, ambas as autoras destacam a importância das mulheres que vieram antes delas, como Gillian Flynn, que ajudou a popularizar o suspense doméstico. Elas criaram uma comunidade forte entre escritoras, onde a colaboração supera a competição. Esse apoio mútuo é essencial para o crescimento do gênero e para a crescente visibilidade das vozes femininas na literatura. Portanto, ao ler um livro de suspense escrito por uma mulher, você pode esperar encontrar não apenas uma história intrigante, mas uma nova perspectiva sobre o que significa sentir medo.
