A Nova Face do Capitalismo nos EUA: Trump e a Intervenção Estatal
Nos últimos anos, as ações do governo de Donald Trump no setor privado têm gerado um turbilhão de discussões nos Estados Unidos. O que antes era visto como um pilar de um capitalismo liberal, agora parece estar se transformando em algo mais próximo do que se convencionou chamar de capitalismo de Estado. Este modelo, que é amplamente criticado por liberais e figuras da direita que desaprovam qualquer tipo de intervenção do Estado na economia, está ganhando força. As medidas tomadas por Trump, que vão desde a aquisição de participação acionária na Intel até acordos com a farmacêutica Pfizer, indicam uma mudança significativa na maneira como o governo interage com o setor privado.
Uma Nova Era Econômica?
É interessante notar que um país com uma tradição de excelência institucional e políticas liberais esteja adotando práticas que normalmente são vistas em economias emergentes, particularmente na América Latina. O economista-chefe da ARX Investimentos, Gabriel Barros, comentou que essa situação é curiosa, pois lembra o capitalismo de laços, onde relações complexas entre o público e o privado prevalecem. No Brasil, por exemplo, esse modelo tem sido realidade há anos, frequentemente com resultados desastrosos.
Acordo com a Pfizer e a Questão dos Preços
Recentemente, Trump anunciou um acordo com a Pfizer para a venda de medicamentos a preços mais baixos que os praticados no mercado europeu. A farmacêutica se comprometeu a oferecer descontos de 50% em um novo site chamado TrumpRx, em troca de ficar isenta das tarifas de 100% sobre produtos farmacêuticos. Essa manobra foi vista como uma estratégia de negociação para forçar as empresas a abaixarem os preços.
Participação na Intel e a Segurança Nacional
Outro movimento significativo foi a aquisição de 10% da Intel. Trump pressionou o CEO da empresa, Lip-Bu Tan, a renunciar, alegando que suas participações em empresas chinesas representavam uma ameaça à segurança nacional. Após uma reunião na Casa Branca, Tan ofereceu ao governo uma participação acionária como solução para o impasse. Isso gerou um debate sobre até onde o governo deve ir para garantir a segurança nacional, especialmente quando se trata de tecnologia crítica.
Reações e Consequências no Mercado
Esse tipo de intervenção não é algo comum e foi considerado a maior desde a crise financeira de 2008, quando o governo dos EUA interveio para salvar a Chrysler e a General Motors. Curiosamente, essa mudança de paradigma fez com que políticos de esquerda, como o senador Bernie Sanders, elogiassem o plano de Trump, algo que poucos teriam imaginado. As ações da Intel, por exemplo, dispararam após rumores de investimentos da Apple, Nvidia e SoftBank, levando investidores a questionar a disposição das empresas em investir na Intel apenas para agradar ao governo.
O Papel do Pentágono e a Questão das Terras Raras
Além disso, em julho, o Pentágono anunciou a compra de US$ 400 milhões em ações da MP Materials, uma mineradora de terras raras na Califórnia, tornando-se seu maior acionista. As terras raras são essenciais para a defesa nacional e estão no centro da disputa entre Estados Unidos e China. Este movimento marca uma clara intenção do governo de se envolver em setores estratégicos.
Intervenções Internacionais e Geopolítica
A estratégia de Trump não se limita apenas ao mercado interno. Ele também usou a sua guerra tarifária para pressionar países como Japão e Coreia do Sul a investirem centenas de bilhões de dólares em um fundo controlado pelos EUA. Isso levanta questões sobre o papel do governo em negociações internacionais e a forma como os recursos são alocados.
Conclusão: Um Novo Paradigma?
Economistas têm debatido se estamos realmente observando uma aproximação ao capitalismo de Estado, com alguns até chamando isso de extorsão corporativa, como destacou o professor de Harvard Greg Mankiw. Para Thiago de Aragão, CEO da Arko Internacional, a lógica por trás dessas intervenções não é apenas econômica, mas também geopolítica. Trump parece ter entendido que, ao segurar empresas pelo bolso, ele expande a influência da Casa Branca tanto em assuntos internos quanto nas negociações internacionais. Essa nova abordagem pode muito bem definir o futuro econômico dos EUA e suas relações globais.