Sally Rooney: A Escritora que Desafia as Leis Antiterrorismo do Reino Unido
A escritora irlandesa Sally Rooney, famosa por suas obras que fazem reflexões profundas sobre a vida contemporânea, se viu no meio de uma grande controvérsia recentemente. Ela não compareceu a uma cerimônia de premiação em Londres, onde seu mais recente livro, “Intermezzo”, foi reconhecido. A razão? Rooney alegou que corria o risco de ser presa devido ao seu apoio ao grupo ativista Palestine Action, que luta contra a ocupação israelense e pelos direitos dos palestinos.
O Prêmio e a Ausência de Rooney
Na noite do prêmio, realizado no Sky Arts Awards, o editor de Rooney, Alex Bowler, leu uma declaração em seu nome. Na mensagem, Rooney expressou seu desejo de estar presente naquele momento especial, mas explicou que, por conta de seu posicionamento em relação ao protesto não-violento contra a guerra, tinha recebido orientações de que sua entrada no Reino Unido poderia resultar em sua prisão. A autora enfatizou sua “crença na dignidade e beleza de toda a vida humana” e reafirmou sua solidariedade com o povo palestino.
A Proibição do Palestine Action
O grupo Palestine Action se estabeleceu no Reino Unido com o objetivo de interromper as operações de fabricantes de armas que têm vínculos com o governo israelense. Desde 2020, as autoridades britânicas têm monitorado as atividades desse grupo. No entanto, um incidente em junho de 2025, quando ativistas vandalizaram a RAF Brize Norton, a maior base aérea da Grã-Bretanha, levou à proibição do grupo. Essa designação como uma organização terrorista é a primeira do tipo no Reino Unido e implica que apoiar o Palestine Action pode resultar em penas de até 14 anos de prisão.
Liberdade de Expressão em Risco?
Essa situação gerou uma onda de críticas por parte de defensores das liberdades civis. Eles alertam que a aplicação das leis antiterrorismo em um grupo como o Palestine Action pode sufocar a liberdade de expressão e de reunião. Desde que a organização foi rotulada como terrorista, mais de 1.500 pessoas foram presas em protestos em apoio ao grupo, muitos apenas segurando cartazes com mensagens de solidariedade.
O Apoio de Rooney e a Reação do Governo Irlandês
Em uma coluna publicada no Irish Times, Rooney não hesitou em expressar sua indignação sobre a proibição, afirmando que se ser uma “apoiadora do terror” significa apoiar o Palestine Action, então que assim seja. Ela mencionou que muitos artistas e escritores têm encontrado dificuldades para viajar ao Reino Unido para se apresentar publicamente. Além disso, ela revelou planos de destinar seus honorários das adaptações da BBC de seus romances para apoiar o Palestine Action.
O Contexto Internacional e a Reação de Israel
A situação em Gaza não é menos complexa. Uma recente comissão da ONU concluiu que Israel estava cometendo genocídio, o que gerou uma condenação internacional crescente. Israel, por sua vez, rejeita essas acusações. Rooney também destacou que, se o Estado britânico considera suas ações como “terrorismo”, deveria investigar as empresas que ainda promovem seu trabalho, como a WH Smith e a BBC.
Uma Crítica à Ocupação Israelense
Rooney é conhecida por sua postura crítica em relação à ocupação israelense da Cisjordânia e ao bloqueio de Gaza, tendo até recusado vender os direitos de seu terceiro romance a uma editora israelense como forma de apoio ao movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções).
A Irlanda, sua terra natal, tem uma longa história de apoio à causa palestina, refletindo a experiência histórica de subjugação. Recentemente, o governo irlandês se uniu a um processo no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) que acusa Israel de genocídio e está próximo de aprovar uma lei que proíbe o comércio com assentamentos israelenses considerados ilegais.
A Voz de Rooney e a Resposta do Governo Irlandês
No entanto, Rooney criticou a falta de uma declaração mais firme do governo irlandês em relação aos manifestantes que foram presos no Reino Unido. Para ela, se o governo acredita que Israel está cometendo genocídio, deveria agir de forma mais contundente em apoio a seus cidadãos que se manifestam por justiça.
Essa situação ressalta como a arte e a política muitas vezes se entrelaçam, mostrando que vozes como a de Rooney têm um impacto não apenas em suas obras, mas também nas discussões mais amplas sobre direitos humanos e liberdade de expressão. O futuro de tais ativismos e a resposta dos governos permanece como um tema de intenso debate e vigilância.